terça-feira, 10 de fevereiro de 2009



Marktplatz, Tübingen

Já chegando o final do inverno durante a Idade Média, as pessoas costumavam estar aborrecidas, cansadas e muitas vezes delirantes de tanto frio. Haviam aqueles que enxergavam bruxas e demônios. Principalmente uma mulher de aparência nefasta, cujo rosto era bicolor e cuja tarefa metafísica nada mais era que espalhar o inverno sobre toda a superfície da terra.
A resposta humana aos demônios, como de praxe, era vestir a carapuca deles e rir de sua triste condicao de criaturas infernais. Assumir o papel do inimigo sempre foi uma boa forma de vencê-lo, exorcizá-lo. Daí nasceu, pelo menos entre as tribos do que hoje é o sul da Alemanha, o carnaval.
Com a anuência do cristianismo (de outro modo, perderiam fiéis cordeiros), a festa perdurou durante séculos, e até hoje os suábios vestem-se com a roupa das suas bruxas e demônios para mandar o inverno embora; se nao conscientemente, pelo menos replicando quase uma eternidade depois aquilo que seus antepassados uma vez fizeram.

A diferenca é que hoje, creio eu, ninguém esteja delirando de frio, e a funcao expiatória da festa, outrora imediata, necessária e eficaz, transformou-se em mais um folguedo popular a figurar em catálogos etnográficos.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009





"Questionar o governo, questionar os costumes e questionar o próprio Congresso. Estamos aqui com essa missão.”

José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado

O Sarney deve ser um crítico de costumes tao bom quando o Papa na parada gay.
Quero só ver.
Ê Brasil.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Crise


Outubro, Madri


Uma cadeia de causalidades levada às suas últimas conseqüências conduz, como é bem sabido, à origem de todas as coisas: o que acaba nao explicando nada e nao responsabilizando ninguém.
Outra boa forma de desresponsabilizacao é conferir às "conjunturas" a culpa de tudo. Em termos macrosociológicos e macroeconômicos isso volta e meia acontece, até porque, inegavelmente, grandes estruturas possuem um relativo grau de autonomia perante os atores que a compoem. Todavia, sempre há espaco para aquilo que se chama princípio da alternatividade nas acoes humanas; é dizer, frente a uma decisao importante, poder ter escolhido fazer outra coisa. As estruturas funcionam autonomamente e muitas vezes alienadas das vontades individuais, mas a arquitetura delas - e principalmente a da estrutura econômica - está baseada em alguns pontos nodais que dependem da escolha humana. Pesem todas as pressoes conjunturais, fazer trade off ainda é uma faculdade do ser humano. E é nisso, conseqüentemente, que reside a responsabilidade.
Foi pensando desta forma que o Guardian da Inglaterra sugeriu a seguinte lista de "culpados" pela crise atual:

A quem culpar (segundo o The Guardian)







1) Alan Greenspan, chairman do Fed, banco central dos EUA, entre 1987 e 2006

2) Mervyn King, presidente do Bank of England (banco central da Inglaterra)

3) Bill Clinton, ex-presidente dos EUA

4) Gordon Brown, primeiro-ministro da Grã-Bretanha

5) George W Bush, ex-presidente dos EUA

6) Phil Gramm, ex-senador do Texas

7) Abby Cohen, chefe estrategista do banco Goldman Sachs

8) Kathleen Corbet, ex-presidente do Standard & Poor’s

9) "Hank" Greenberg, chefão do grupo de seguros AIG

10) Andy Hornby, ex-chefe do HBOS

11) Sir Fred Goodwin, ex-chefe do banco britânico RBS

12) Steve Crawshaw, ex-chefe do B&B

13) Adam Applegarth, ex-chefe da Northern Rock

14) Dick Fuld, chefe executivo do banco Lehman Brothers

15) Ralph Cioffi e Matthew Tannin

16) Lewis Ranieri, financista

17) Joseph Cassasno, da AIG Financial Products

18) Chuck Prince, ex-chefe do grupo bancário Citi

19) Angelo Mozilo, chefe da Countrywide Financial

20) Stan O’Neal, ex-chefe do Merrill Lynch

21) Jimmy Cayne, ex-chefe da Bear Stearns

22) Christopher Dodd, chefe do comitê de bancos do Senado dos EUA

23) Geir Haarde, primeiro-ministro da Islândia

24) John Tiner, ex-executivo da FSA (autoridade de serviços financeiros dos EUA)

25) O consumidor americano

Na minha singela opiniao, este último - que também é o mais genérico de todos - deveria ser o primeiro.