Calle de Alcalá, Madrid
Madri é uma cidade louca. É a metáfora perfeita da cidade-organismo, de um ser vivo composto de anatomia e fisiologia finamente acabadas, nas quais as avenidas sao verdadeiras artérias e as pessoas sao como monadas (aquelas do "conselheiro áulico Leibniz", como disse Borges) que singelamente refletem a grandiosidade do todo - seja o sujeito mirradinho tocando realejo na Puerta del Sol, o executivo apressado na Calle Ortega y Gasset, a colombiana na estacao Diego de León ou criancinha que desfralda a bandeira para o rei no dia da Hispanidade. Madri é uma cidade de muitos tipos humanos, tantos que a gente até cansa de enumerá-los. O que o velhinho que acompanha os touros na arena de Ventas desde 1958 - anotando tudo o que acontece num caderninho de couro preto - tem a ver com a drag queen pintosa de Chueca? Talvez o mesmo que a atendente nicaragüenha do Mc Donalds tem com as idosas senhoras surpreendentemente ativas à partir das 23h: absolutamente nada e potencialmente tudo.
Em algum lugar se le que o que caracteriza a vida metropolitana é a proximidade concreta de muitas pessoas que vivem em mundos simbólicos completamente diferentes e até mesmo equidistantes. É na metrópole que os encontros mais inusitados sao potencias prestes a serem realizadas a qualquer momento, basta que ruídos interferiram na fina membrana que separa os distintos universos que se chocam dia a dia no metro, na calcada, no café, no parque. Isso é um bom indício do que seja Madri e do que se pode tirar dela. Como poucos lugares no mundo, tudo o que de mais humano existe é catalizado e exponenciado na densamente povoada capital da Espanha, seja algo bom, algo ruim ou qualquer outra coisa perdida no amplo espaco existente entre estas duas extremidades; espaco este, quem sabe, correspondente ao território de Madri, sem tirar nem por: bonito e alegre da Porta de Atocha até as vizinhancas de Alcalá de Henares.
Um comentário:
Muito bem descrito. Espero poder ter essa mesma sensação lá.
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